Vaticano ajusta diretrizes e permite que homens gays ingressem em seminários, desde que celibatários

O Vaticano anunciou novas diretrizes que permitem a admissão de homens gays em seminários católicos na Itália, desde que sigam a regra de celibato, válida para todos os sacerdotes. A medida foi considerada um passo inesperado dentro da Igreja Católica, que tradicionalmente aborda com cautela temas relacionados à sexualidade.
As novas regras, publicadas discretamente no site da Conferência Episcopal Italiana na última quinta-feira (9), representam uma mudança em relação à instrução de 2016, que desaconselhava a admissão de homens com “tendências homossexuais profundamente arraigadas”. O texto atualizado orienta que a sexualidade de um candidato seja considerada dentro do contexto mais amplo de sua personalidade, destacando que essa característica não deve ser o único critério de avaliação.
Diretrizes em caráter experimental
As novas orientações foram aprovadas pelos bispos italianos em novembro e receberam aval do Vaticano para um período experimental de três anos. No texto, os bispos afirmam que o discernimento vocacional deve ir além da orientação sexual e considerar o jovem em sua totalidade.
“Quando se trata de tendências homossexuais no processo de formação, também é apropriado não reduzir o discernimento apenas a este aspecto, mas compreender seu significado dentro do contexto mais amplo da personalidade do jovem”, afirma o documento.
Repercussões e contexto histórico
Embora o Vaticano nunca tenha proibido explicitamente homens gays de se tornarem padres, documentos anteriores, como o emitido pelo Papa Bento XVI em 2005 e reforçado por Francisco em 2016, estabeleceram critérios rigorosos para a admissão de candidatos com tendências homossexuais. As novas diretrizes são vistas como uma flexibilização dessa abordagem e refletem a postura mais acolhedora que o Papa Francisco tem demonstrado em relação à comunidade LGBTQIA+.
Nos últimos anos, Francisco reiterou a importância do celibato para todos os sacerdotes e insistiu na triagem cuidadosa dos candidatos ao sacerdócio. Apesar disso, a admissão de homens gays ainda é um tema delicado dentro da Igreja, com muitos padres gays relatando receios em discutir abertamente sua sexualidade.
O impacto da decisão
A aprovação das novas diretrizes ocorre em um momento em que a Igreja Católica enfrenta desafios em atrair novos vocacionados ao sacerdócio. A decisão inicial de aplicá-las apenas na Itália pode servir como um teste para futuras implementações em outras partes do mundo.
Além disso, a medida é acompanhada por iniciativas recentes do Papa Francisco, que tem buscado uma abordagem mais inclusiva, como permitir bênçãos a casais do mesmo sexo em situações específicas. Ainda assim, tensões dentro da hierarquia eclesiástica permanecem evidentes, com setores mais conservadores resistindo a mudanças.
Próximos passos
Ao final do período experimental de três anos, as diretrizes serão avaliadas para determinar sua eficácia e impacto. Enquanto isso, o Vaticano continua monitorando o tema com cautela, buscando equilibrar tradição, inclusão e os desafios contemporâneos enfrentados pela Igreja Católica.
Informações do G1
Foto: Vaticano/Divulgação via Reuters