Fonte: Globo Rural
Alta do cacau deve puxar preço dos chocolates

Os fabricantes de chocolate no Brasil se preparam para um segundo semestre desafiador, com previsões de novos aumentos de preços devido à crise global de oferta de cacau, que enfrenta um dos maiores déficits das últimas décadas. O produto, que já acumulou alta de até 18% entre janeiro de 2022 e maio de 2023, deve sofrer novos reajustes nos próximos meses.
A Organização Internacional do Cacau (ICCO) estima que a demanda mundial deve superar a oferta em 439 mil toneladas na safra 2023/24, configurando o terceiro ano consecutivo de déficit na produção global. Este cenário tem levado o preço do cacau a níveis recordes na bolsa de Nova York, onde em abril deste ano a tonelada alcançou US$ 11.878, marcando uma valorização de 121% nos últimos 12 meses.
Em nota, a Nestlé, uma das principais fabricantes de chocolate no país, afirmou que, diante da continuidade da alta nos preços da commodity, será necessário ajustar os preços dos produtos, embora a empresa se comprometa a realizar esses reajustes com responsabilidade. A Mondelez, que também atua no mercado brasileiro com marcas como Lacta e Oreo, compartilha da mesma perspectiva, destacando que estratégias para amenizar o impacto nos preços estão sendo desenvolvidas, como o lançamento de produtos em diferentes formatos e tamanhos.
Apesar do cenário de alta nos preços, o consumo de chocolate no Brasil tem mostrado resiliência. De janeiro a maio de 2023, o consumo aumentou 15,5% em volume em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com levantamento da empresa de pesquisa de mercado Kantar. No entanto, especialistas do setor alertam que o aumento contínuo nos preços pode levar os consumidores a repensar suas escolhas, favorecendo produtos que utilizem menos cacau, como wafers e bombons.
O setor também enfrenta desafios adicionais com a escassez de matéria-prima no mercado interno. Dados da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) indicam uma queda de 37,4% no volume de amêndoas nacionais recebidas pela indústria processadora no primeiro semestre de 2024. A redução é atribuída a fatores climáticos adversos e à presença de pragas em lavouras da Bahia, principal região produtora de cacau no país.
Diante desse cenário, a indústria do chocolate no Brasil se vê diante do desafio de equilibrar a necessidade de ajustar preços com a manutenção do volume de vendas, enquanto busca alternativas para lidar com a escassez de cacau e garantir a continuidade das operações.